Biomedicina se despede de Lair Guerra – biomédica indicada ao Nobel da paz
Na última quarta-feira (13/03) a área da saúde se despediu da biomédica Lair Guerra, referência no combate à epidemia de HIV/AIDS que se alastrou pelo mundo na década de 80. Dra Lair era natural de Curimatá (PI) e estava internada na UTI em Brasília (DF) desde o início do ano, após ser diagnosticada com pneumonia. Ao lado de diversos órgãos e profissionais da saúde, a Biomedicina se despede de Lair Guerra, biomédica referência na ciência brasileira.
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Trabalho da biomédica Lair Guerra proporcionou indicação da Dra. ao Nobel da Paz
Foi em 1986, durante o ápice da epidemia de HIV/AIDS que a Dra. Lair Guerra assumiu o papel de pioneirista como coordenadora do Programa Nacional de DST/Aids do Ministério da Saúde. Sua participação e comprometimento com a causa foram tão marcantes que, em 2004, a Assembléia Geral da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical reconheceu sua enorme contribuição e a indicou para o Prêmio Nobel da Paz.
Nascida em 28 de março de 1943, Lair completaria em 2024, 81 anos. Sua história acadêmica se iniciou com a graduação na Universidade Federal de Pernambuco e lecionou Microbiologia na Universidade Federal do Piauí (UFPI) onde também administrou o laboratório da universidade em 1977. A biomédica ainda realizou estudos de pós-graduação no Centro de Doenças na Universidade de Harvard, com o apoio de uma bolsa de estudos da Organização Pan-Americana de Saúde. Durante sua estadia, ela desempenhou o papel de pesquisadora visitante, concentrando-se em estudos relacionados a doenças sexualmente transmissíveis. Em seu currículo ainda consta, um mestrado em 1981 na Universidade de Georgia, nos Estados Unidos, e um doutorado em 1983 na Emory University, também nos EUA.
Foi necessário muita garra para a implantação do Programa de combate a DST/Aids, pois além do preconceito com a doença, ainda pouco estudada na época, ela enfrentava muita resistência por conta da falta de recursos disponíveis, que aumentavam as dificuldades e os desafios no atendimento aos pacientes. Para enfrentar as adversidades, Lair espelhava-se em seu lema de que Saúde é para todos.
Sua participação foi fundamental no combate a disseminação do vírus HIV estando à frente de lideranças de campanhas de esclarecimentos sobre o uso de preservativo e combate à doença e a colaboração com diversos bancos de sangue e ONGs na implantação de políticas públicas de enfrentamento à infecção e pelo direito de quem portava a doença.
Dra. Lair Guerra elevou nome da ciência brasileira a nível internacional
Durante os 10 anos à frente do projeto (1986 – 1996) Dra. Lair Guerra se afastou apenas em 1990 até 1992 durante o governo Collor. Contudo, a biomédica retoma o posto a pedido do ministro da saúde do governo Itamar Franco, Adib Janete. Seu afastamento permanente se deu após um grave acidente automotivo a caminho de uma palestra em um congresso de infectologia, ocorrido em agosto de 1996.
O impacto e o comprometimento da presença da Dra Lair liderando o Programa Nacional de DST/Aids foi tão grande que foi em sua gestão que o SUS (Sistema Único de Saúde) iniciou as primeiras distribuições de medicamentos antirretrovirais surgidos no final dos anos 80 e início dos anos 90.
Ao ser entrevistada sobre o Programa ela afirmou que o mesmo “cabia em uma caixa de sapatos”, isso devido ao número de pessoas envolvidas em sua equipe e o pouco investimento. Apesar dos recursos limitados, sua determinação e habilidades para atrair especialistas qualificados, transformaram em pouco tempo o seu Programa em referência, demonstrando reconhecimento pelo trabalho como gestora.
Todo este trabalho gerou um impacto muito rápido na saúde brasileira em resposta ao avanço do HIV/Aids. Em 1996, já afastada das suas funções, Dra. Lair viu a comunidade científica internacional anunciar o tratamento revolucionário da doença chamado de “coquetel”. Apesar das críticas recebidas, o Brasil demonstrou sua capacidade de manter essa distribuição, influenciando a resposta global ao HIV/AIDS. O legado de Dra. Lair serviu de exemplo para seus sucessores, que mantiveram e expandiram essa política, transformando a resposta brasileira e influenciando positivamente o combate.
Biomedicina se despede de Lair Guerra
O falecimento da Dra. Lair Guerra comoveu diversas instituições de saúde. A Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) expressou em seu portal que apesar da tristeza da perda, era o momento de ressaltar que o Brasil possui pessoas de importância para a sociedade científica.
“O dia de hoje é, portanto, de luto e tristeza, mas também um dia para relembrar que este país possui homens e mulheres valorosos que pelo seu caráter e atuação constroem pontes para o progresso, fazem história e tornam-se inspiração para gerações. Dra. Lair, certamente, é um desses inequívocos exemplos”.
Em nota, o Ministério da Saúde também lamentou o falecimento da Dra. ressaltando que seu trabalho à frente do Programa de combate à Aids foi um exemplo para o mundo.
“Lair Guerra foi pioneira na construção de políticas públicas no Brasil para o enfrentamento da Aids, tendo sido nomeada para coordenar o programa do país para controle da doença na década de 80. “Sob a coordenação de Guerra, surgiram as campanhas nacionais de rádio, televisão e mídia impressa para informar a população e qualificar profissionais para o combate às DST/Aids. O trabalho da biomédica lhe rendeu a indicação ao Prêmio Nobel da Paz por tornar o programa brasileiro exemplo para o mundo”.
É com imenso pesar que a equipe do NEPUGA expressa suas mais profundas condolências pelo falecimento da Dra. Lair Guerra. Sua contribuição para a ciência e para a saúde pública brasileira foi incomparável, deixando um legado de dedicação e excelência que jamais será esquecido.
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